terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O empirismo de David Hume - Resumo


Existe uma dife¬rença considerável entre as percepções da mente, quando um homem sente a dor e quando ele depois traz à memória a sua sensação ou a antecipa.
Estas faculdades podem copiar as percepções dos sentidos, mas nunca podem inteiramente atingir a força e vivacidade do sentimento original; o mais vivo pensamento é ainda inferior à mais baça sensação.
Podemos observar que uma distinção similar prevalece em todas as outras percepções da mente.
Quando reflectimos acerca dos nossos sentimentos e estados de ânimo passados, o nosso pensamento é um espelho fiel. e copia os seus objectos com verdade, Não se exige nenhum discernimento fino ou cabeça metafísica para assinalar a dis¬tinção entre elas.

Podemos dividir as percepções da mente em duas classes ou tipos, que se distinguem pelos seus diferentes graus de força e vivacidade.



  • As menos intensas e vivas são comummente designadas Pensamentos ou Ideias.

  • A outra classe são as Impressões que significa todas as nossas percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos.


E as impressões distinguem-se das ideias, que são as impressões menos intensas



Nada pode parecer mais livre do que o pensamento do homem.
E enquanto o corpo está confinado a um planeta, ao longo do qual se arrasta com dor e dificuldade, o pensamento pode, num instante, transportar-nos para as mais distantes regiões do universo.
O nosso pensamento pareça possuir esta liberdade veremos,que se encontra confinado a limites e que todo este poder criador da mente nada mais vem a ser do que a faculdade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos são fornecidos pelos sentidos e pela experiência.
Em suma, todos os materiais do pensamento são derivados da sensibilidade externa ou interna: a mistura e composição destes pertencem apenas à mente e à vontade.

Os dois argumentos seguintes provarão, espero, sufi¬cientes para provar isto. Primeiro, ao analisarmos os nossos pensamentos, sempre descobrimos que elas se resolvem em ideias tão simples como se fossem copiadas de uma sensação ou sentimento precedente. Mesmo as ideias que, à primeira vista, parecem afastadas destas origem, descobre-se. Após um escru¬tínio mais minucioso, serem dela derivadas.
Podemos prosseguir esta inquirição até ao ponto que nos agradar, onde sempre descobriremos que toda a ideia que examinamos é copiada de uma impressão similar.
Segundo, se acontecer que um homem, em virtude de um defeito dos órgãos, não é susceptível de qualquer espé¬cie de sensação, vemos sempre que ele é igualmente pouco susceptível das ideias correspondentes.
Embora haja poucos ou nenhuns exemplos de uma semelhante deficiência na mente, em que uma pessoa nunca reconheceu ou é totalmente incapaz de um sentimento ou paixão que pertence à sua espécie, no entanto, descobrimos que a mesma observação ocorre num grau menor.
Admite-se prontamente que outros seres possam possuir muitos sentidos dos quais não temos nenhuma noção, porque as ideias deles nunca nos foram introduzidas da única maneira pela qual uma ideia pode ter acesso à mente, isto é, através da sensibilidade e da sensação efectivas.
Existe, contudo, um fenómeno contraditório que pode provar que não é absolutamente impossível surgirem ideias independentes das suas impressões correspondentes. Creio que sem grande esforço se admitirá que as várias e distintas ideias de cor, que entram pelos olhos, ou as de som, que são trans¬portadas pelos ouvidos, são realmente diferentes umas das outras, embora, ao mesmo tempo, se assemelhem.
. Suponhamos, pois, que uma pessoa desfrutou da sua visão durante trinta anos e que se tornou perfeitamente familiarizada com cores de todas as espécies, excepto com um matiz particular de azul, por exemplo, que nunca teve a sorte de encontrar. Que todos os diferentes matizes dessa cor, excepto aquele único, lhe sejam apresentados, descendo gradualmente do mais escuro para o mais claro;
ser-lhe-á possível, pela sua própria imaginação, suprir tal deficiência e ascender por si mesma à ideia desse matiz particular, embora nunca lhe tenha sido transmitida pelos sentido?

Todas as ideias, em especial as abstractas, são naturalmente vagas e obscuras; a mente tem delas apenas um escasso domínio.
Pelo contrário, todas as impressões, isto é, todas as sensações, quer externas ou internas, são fortes e vivas;
Por consequência, quando alimentarmos alguma suspeita de que um termo filosófico é empregue sem um significado ou ideia, precisamos apenas de perguntar: de que impressão deriva esta suposta ideia?

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